quarta-feira, 11 de agosto de 2010

SERÁ QUE AINDA SEREMOS COMO OS ESQUIMÓS?

1. Em 2006, o ex-Vice Presidente norte-americano, Al Gore, confrontou o mundo com um documentário que simulava a emergência de profundas alterações climáticas, caso a humanidade prossiga no modo de vida que leva actualmente. O documentário, denominado “Uma Verdade Inconveniente”, provocou várias reacções: uns assumiram-no como um muito sério aviso à navegação, aceitando, portanto, os seus alertas; outros viram-no como um grande exagero, como apenas um álibi, ou uma manipulação engendrada pelo lobby ambientalista. Todavia, e mesmo com o descrédito dos cépticos, no ano seguinte, Al Gore foi contemplado com o Prémio Nobel da Paz, que recebeu conjuntamente com o Painel Intergovernamental das Nações Unidas para as Alterações Climáticas.

2. A mensagem que Al Gore pretendeu passar era simples: já sobra pouco tempo para se evitar uma catástrofe planetária de dimensões incalculáveis, uma catástrofe que porá em causa a sobrevivência da própria humanidade. Mas, Al Gore disse ainda que pequenas alterações na nossa rotina diária poderão reduzir em muito a emissão de gases poluentes causadores do efeito estufa, sem, porém, afectar a nossa qualidade de vida.

3. Quem viu o vídeo, certamente se lembrará de algumas das suas imagens mais aterradoras: regiões que antes eram húmidas a tornarem-se secas; zonas frias virando quentes; o degelo dos glaciares; ventos ciclónicos varrendo vastas áreas; o desaparecimento de grandes concentrações humanas. No vídeo, a Europa Ocidental tornar-se-ia mais quente; fortes precipitações fariam da Europa do Norte, Central e do Leste zonas pantanosas, com deslocações massivas das suas populações; o Sul da Europa caminharia para uma progressiva desertificação.

4. Depois do alerta de Al Gore, temos assistido, em alguns países, a uma corrida para a descoberta e utilização de tecnologias mais amigas do ambiente. Fala-se já, mais insistentemente, na ampliação do uso de recursos energéticos sem ou com menos teor de dióxido de carbono e de outros gases causadores do efeito estufa.

5. Para Al Gore, o cuidado com o ambiente tem sido tão grande que, ainda em 2007, juntamente com Richard Branson, presidente da empresa Virgin, instituiu um valioso prémio de 25 milhões de dólares a ser atribuído ao cientista que apresente a melhor proposta para se limpar o ar do dióxido de carbono que o empesta.

6. É, sim, verdade: o ar que hoje respiramos está empestado por gases mortíferos que podem mesmo aniquilar o nosso planeta. Por isso, Al Gore terá dito em 2009: “Os grandes poluidores do mundo têm feito da atmosfera um autêntico esgoto a céu aberto…”.

7. As agressões feitas à natureza vão produzindo os seus resultados, de tal modo que, por exemplo, nos últimos tempos, a Rússia está a conhecer as suas mais elevadas temperaturas, desde há centenas de anos. As altíssimas temperaturas originaram a deflagração de incêndios florestais em vários pontos da sua parte europeia, seguidos de uma devastação sem precedentes. Tais incêndios florestais ameaçam cidades inteiras. Houve mesmo vilas que desapareceram.

8. A onda de calor que se faz sentir na Rússia, um país geralmente frio, atingiu níveis impensáveis. Contraditoriamente, também perto de Moscovo caem chuvas de granizo, e a fumaça resultante dos incêndios florestais escurece tudo artificialmente, reduzindo os níveis de visibilidade, inclusive, nos túneis do Metro.

9. Na Ásia a situação não é melhor. O Paquistão ocupa um grande espaço nos noticiários internacionais, não já por causa da perda de controlo sobre o terrorismo dos fundamentalistas, mas, sim, porque conhece inundações sem precedentes. A cada momento se vão actualizando as estatísticas dessa catástrofe humanitária, saldando-se por milhares os mortos e por milhões o número dos afectados. Diz-se que o país está perante as piores inundações dos últimos 80 anos. Na China está na ordem do dia o deslizamento de terras, por causa das fortes chuvas, o mesmo estando a suceder na Índia.

10. Mas temos também manifestações da natureza de sinal contrário ao da Rússia. No sul do Brasil, as temperaturas estão extremamente baixas, caindo, por exemplo, neve em Santa Catarina, um dos Estados do sul, ao ponto de congelar uma cachoeira. Também no Rio Grande do Sul. Tratou-se do maior nevão da última década.

11. Há igualmente notícias sobre o descongelamento de montanhas antes geladas, o desprendimento de icebergs, por causa da elevação da temperatura em regiões tradicionalmente frias, com sérios riscos para a sobrevivência de algumas espécies, como os ursos polares, pondo em perigo a biodiversidade.

12. Alguém está em condições de dizer, por exemplo, que um dia não teremos uma Angola regelada como a Sibéria, ou a Sibéria com temperaturas altas como aquelas que acontecem em algumas partes de África? Eu não duvido, mesmo que pense que transformações climáticas radicais necessitam, pelo menos teoricamente, de muitíssimos anos para suceder.

13. Aprendi, em criança, que as actuais zonas desérticas foram, há milhares (ou milhões) de anos, imensas florestas. Daí serem enormes depósitos privilegiados de um dos combustíveis fósseis que mais contribui para a criação do chamado efeito estufa: o petróleo.

14. Gostaria, pois, de viver talvez mais 600 anos, para puder ver os angolanos desse tempo a resguardarem-se contra o frio, como hoje se vê nas imagens dos esquimós.

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