segunda-feira, 21 de maio de 2012

GUINÉ-BISSAU UM EXEMPLO A NÃO SEGUIR


  1. Tenho estado a acompanhar a evolução da situação política na Guiné-Bissau, e procuro ponderar sobre as razões profundas que poderão estar por detrás da sua incessante instabilidade. Terei descortinado eventuais motivações de carácter étnico – como, por exemplo, o predomínio avassalador dos balantas na estrutura das Forças Armadas; também reminiscência do modo como se erigiu o Estado da Guiné-Bissau – com a manutenção de uma estrutura militar inadequada aos tempos modernos; e, como não podia deixar de ser, as perigosas e persistentes interferências do tráfico de drogas. Será esse o conjunto de factores que condiciona o drama da Guiné-Bissau.



  1. Na semana passada, debrucei-me com relativo pormenor sobre a componente étnica do conflito, associando-a, mesmo que ao de leve, à existência de uma estrutura militar inadequada. Hoje, e para um melhor esclarecimento, opto por destacar as cada vez mais fundamentadas interferências do tráfico de drogas na vida social e política guineense, ao ponto de porem em causa os próprios fundamentos do Estado de Direito. Mas, a abordagem do tráfico de drogas na Guiné-Bissau tem que ser feita tendo como pano de fundo o conjunto da África Ocidental de que, afinal, faz parte.



  1. É ponto assente que o destino final das drogas que passam pelos países da África Ocidental é a Europa. Também é ponto assente que a produção dessas drogas localiza-se na América do Sul, e que o seu trânsito pela África Ocidental se deve ao facto de ser a rota mais segura e mais barata, quer pela fragilidade das instituições estatais, quer pelo estado de pobreza das suas populações. Senegal, Serra Leoa, Nigéria, Libéria, Mali, Guiné-Conacry e Guiné-Bissau, são os países mais atingidos.



  1. A droga que transita pela África Ocidental a caminho da Europa vem de países como a Colômbia, Bolívia, Peru e Venezuela. Não sendo embora país produtor, o Brasil tem sido cada vez mais referenciado como rota privilegiada de passagem da droga que entra em África. São apontados regularmente e de um modo cada vez mais crescente aviões carregados de droga que, do Brasil, entram em África para ser depois comercializada na Europa.



  1. Através do seu Escritório sobre Drogas e Crime, as Nações Unidas têm reportado com alguma frequência não só o volume das apreensões de cocaína no trânsito entre a África Ocidental e a Europa como, igualmente, o crescente e assustador valor desse comércio. Descrevem ainda, e com certa minúcia, os novos métodos utilizados pelos criminosos para escaparem ao controlo que lhes é montado.



  1. Os traficantes de droga recorrem, por exemplo, ao uso de transporte aéreo ou marítimo (neste caso, privilegiam os países insulares como Cabo Verde), dividem a droga em pequenas quantidades e põem ao seu serviço as chamadas “mulas”, gente que serve de veículo de transporte.



  1. Se olharmos para o quadro social e político da região, o quê que vemos? Vemos países geralmente pobres, politicamente instáveis, dotados de frágeis mecanismos de segurança, e com inadequados controlos fronteiriços. Olhando para esse conjunto de questões, a Guiné-Bissau apresenta-se como dos países da região mais permissivo ao tráfico de drogas, muito pelo envolvimento de altos responsáveis militares e políticos nesse tráfico.



  1. Defronte à costa da Guiné-Bissau está o arquipélago de Bijagós, constituído por pequenas ilhas, muitas delas inabitadas. É, pois, aí que aterram ou acostam aeronaves e embarcações de traficantes que se mancomunam com autoridades locais. Por tudo isso, a Guiné-Bissau transformou-se numa das principais placas giratórias do tráfico de drogas para a Europa.



  1.  A acção dos traficantes associada à cumplicidade de sectores militares e políticos corruptos tornou-se num verdadeiro cancro político e social que corrói a sociedade guineense e faz prolongar e aprofundar o seu subdesenvolvimento. Uma população extremamente pobre e a corrupção das próprias instituições do Estado, tornam-na uma presa fácil para todo o tipo de tráficos.



  1.  O Escritório das Nações Unidas contra a Droga e o Crime passou também a incluir Angola na lista dos países que se estão a constituir em placa giratória para o tráfico de drogas.



  1. Já não dá para estranhar esta inclusão, sobretudo se levarmos a sério as palavras pronunciadas pelo ex-Comandante Provincial da Polícia de Luanda, Joaquim Ribeiro, quando, em julgamento, afirmou que o seu “CALVÁRIO” começou quando iniciou o desmantelamento da rede de tráfico de drogas que se havia instalado no aeroporto e no porto de Luanda. Joaquim Ribeiro disse ainda que “não sabia como o país iria acordar no dia seguinte”, se ele revelasse tudo quanto sabe sobre esse assunto… tais declarações de Joaquim Ribeiro são, de facto, muito fortes e demasiado preocupantes…



  1. Para além da componente étnica e de desestruturação ou inadaptação das suas actuais estruturas militares, a história da Guiné-Bissau deve fazer-nos pensar seriamente nos efeitos a prazo do envolvimento de “gente graúda” no tráfico de drogas e outros tráficos… A Guiné-Bissau é, pois, um exemplo que aconselho Angola a não seguir!

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