GUINÉ-BISSAU UM EXEMPLO A NÃO SEGUIR
- Tenho estado a
acompanhar a evolução da situação política na Guiné-Bissau, e procuro
ponderar sobre as razões profundas que poderão estar por detrás da sua
incessante instabilidade. Terei descortinado eventuais motivações de
carácter étnico – como, por exemplo, o predomínio avassalador dos balantas
na estrutura das Forças Armadas; também reminiscência do modo como se
erigiu o Estado da Guiné-Bissau – com a manutenção de uma estrutura
militar inadequada aos tempos modernos; e, como não podia deixar de ser,
as perigosas e persistentes interferências do tráfico de drogas. Será esse
o conjunto de factores que condiciona o drama da Guiné-Bissau.
- Na semana passada,
debrucei-me com relativo pormenor sobre a componente étnica do conflito,
associando-a, mesmo que ao de leve, à existência de uma estrutura militar
inadequada. Hoje, e para um melhor esclarecimento, opto por destacar as
cada vez mais fundamentadas interferências do tráfico de drogas na vida
social e política guineense, ao ponto de porem em causa os próprios
fundamentos do Estado de Direito. Mas, a abordagem do tráfico de drogas na
Guiné-Bissau tem que ser feita tendo como pano de fundo o conjunto da
África Ocidental de que, afinal, faz parte.
- É ponto assente que
o destino final das drogas que passam pelos países da África Ocidental é a
Europa. Também é ponto assente que a produção dessas drogas localiza-se na
América do Sul, e que o seu trânsito pela África Ocidental se deve ao
facto de ser a rota mais segura e mais barata, quer pela fragilidade das
instituições estatais, quer pelo estado de pobreza das suas populações. Senegal,
Serra Leoa, Nigéria, Libéria, Mali, Guiné-Conacry e Guiné-Bissau, são os
países mais atingidos.
- A droga que transita
pela África Ocidental a caminho da Europa vem de países como a Colômbia,
Bolívia, Peru e Venezuela. Não sendo embora país produtor, o Brasil tem
sido cada vez mais referenciado como rota privilegiada de passagem da
droga que entra em África. São apontados regularmente e de um modo cada
vez mais crescente aviões carregados de droga que, do Brasil, entram em
África para ser depois comercializada na Europa.
- Através do seu
Escritório sobre Drogas e Crime, as Nações Unidas têm reportado com alguma
frequência não só o volume das apreensões de cocaína no trânsito entre a
África Ocidental e a Europa como, igualmente, o crescente e assustador valor
desse comércio. Descrevem ainda, e com certa minúcia, os novos métodos
utilizados pelos criminosos para escaparem ao controlo que lhes é montado.
- Os traficantes de
droga recorrem, por exemplo, ao uso de transporte aéreo ou marítimo (neste
caso, privilegiam os países insulares como Cabo Verde), dividem a droga em
pequenas quantidades e põem ao seu serviço as chamadas “mulas”, gente que
serve de veículo de transporte.
- Se olharmos para o
quadro social e político da região, o quê que vemos? Vemos países geralmente
pobres, politicamente instáveis, dotados de frágeis mecanismos de
segurança, e com inadequados controlos fronteiriços. Olhando para esse
conjunto de questões, a Guiné-Bissau apresenta-se como dos países da
região mais permissivo ao tráfico de drogas, muito pelo envolvimento de
altos responsáveis militares e políticos nesse tráfico.
- Defronte à costa da
Guiné-Bissau está o arquipélago de Bijagós, constituído por pequenas
ilhas, muitas delas inabitadas. É, pois, aí que aterram ou acostam
aeronaves e embarcações de traficantes que se mancomunam com autoridades
locais. Por tudo isso, a Guiné-Bissau transformou-se numa das principais
placas giratórias do tráfico de drogas para a Europa.
- A acção dos traficantes associada à
cumplicidade de sectores militares e políticos corruptos tornou-se num
verdadeiro cancro político e social que corrói a sociedade guineense e faz
prolongar e aprofundar o seu subdesenvolvimento. Uma população
extremamente pobre e a corrupção das próprias instituições do Estado, tornam-na
uma presa fácil para todo o tipo de tráficos.
- O Escritório das Nações Unidas contra a
Droga e o Crime passou também a incluir Angola na lista dos países que se
estão a constituir em placa giratória para o tráfico de drogas.
- Já não dá para
estranhar esta inclusão, sobretudo se levarmos a sério as palavras
pronunciadas pelo ex-Comandante Provincial da Polícia de Luanda, Joaquim
Ribeiro, quando, em julgamento, afirmou que o seu “CALVÁRIO” começou quando
iniciou o desmantelamento da rede de tráfico de drogas que se havia
instalado no aeroporto e no porto de Luanda. Joaquim Ribeiro disse ainda que
“não sabia como o país iria acordar no dia seguinte”, se ele revelasse
tudo quanto sabe sobre esse assunto… tais declarações de Joaquim Ribeiro
são, de facto, muito fortes e demasiado preocupantes…
- Para além da
componente étnica e de desestruturação ou inadaptação das suas actuais
estruturas militares, a história da Guiné-Bissau deve fazer-nos pensar
seriamente nos efeitos a prazo do envolvimento de “gente graúda” no
tráfico de drogas e outros tráficos… A Guiné-Bissau é, pois, um exemplo
que aconselho Angola a não seguir!
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