segunda-feira, 6 de agosto de 2012

UMA VERDADEIRA LUFADA DE AR FRESCO


  1. A honestidade intelectual e o espírito autocrítico são alguns dos predicados dos grandes homens. Nelson Mandela, por exemplo, demonstrou possuir ambos quando, a propósito de estar a ser tido quase como um semi-deus, disse: “Isso foi uma das coisas que me preocuparam – ter ascendido à posição de semi-deus – pois daí em diante você não é mais um ser humano. Eu queria ser conhecido apenas como Mandela, um homem com fraquezas, algumas das quais são fundamentais, e um homem que é engajado”.

  1. Agora, nos últimos dias, um renomado cientista norte-americano, Richard Muller, Professor de Física na Universidade de Berkeley, na Califórnia, até há pouco tempo tido como um cientista céptico relativamente à responsabilidade dos seres humanos no aquecimento global do nosso planeta, alterou o seu posicionamento, tendo, em artigo de opinião no New York Times, escrito a seguinte frase: “Não esperava isto, mas, como cientista, acho que é meu dever permitir que a evidência mude a minha opinião”. No passado, Richard Muller não só desresponsabilizava o papel do homem no aquecimento global como punha mesmo em causa a própria existência do aquecimento global. Em claro tom autocrítico, ele define-se, agora, como um “céptico convertido”.

  1. Há poucos anos, escrevi um texto de opinião (ou talvez até mesmo mais de um texto) em que me debruçava sobre a problemática do aquecimento global. Terá sido, segundo me lembro, aquando de uma reunião cimeira mundial dedicada à definição de estratégias e políticas para o seu combate. Fi-lo, reconheço, suportado pela minha relativa ignorância em relação a essa matéria.

  1. Como é meu apanágio, pretendi apenas sensibilizar a nossa opinião pública para os riscos que todos corremos, caso os grandes decisores mundiais não tomem as medidas julgadas as mais adequadas e urgentes. Limitei-me, naturalmente, a colocar a tónica na dimensão económica dessa questão – como é minha obrigação. Como não podia ser de outro modo, o restante espaço científico ficaria ao cuidado dos argumentos dos físicos, dos ecologistas e de outros especialistas correlacionados.

  1. Infelizmente, a minha abordagem não teve a pretendida sequência, talvez porque a questão ainda não prenda devidamente a atenção da maioria dos nossos “opinion-makers”, possivelmente mais preocupados, por enquanto, com outras matérias eventualmente mais apaixonantes. Mesmo assim, mantenho a esperança de que as questões ambientais venham a fazer parte, no futuro, das pautas políticas e sociais do nosso país.

  1. Hoje, facilmente se percebe que, por vezes, alguns pesquisadores são capazes de desvalorizar a busca da verdade científica e pautar o seu trabalho na base de outros valores e referências. Por exemplo, já houve quem tenha obedecido mais aos interesses egoístas do fortíssimo lobby do tabaco, tendo feito parecer que o consumo do tabaco não seria o responsável pela disseminação do cancro nos pulmões. Também o ex-Presidente norte-americano, George W. Bush, procurou justificar a sua recusa em assinar o Protocolo de Kioto em pareceres de especialistas que põem em causa o papel da acção humana no aquecimento global. Sabe-se agora, porém, que alguns desses pesquisadores não passam de “agentes infiltrados” pelo lobby das petrolíferas e de outras grandes multinacionais, nomeadamente, da indústria automóvel, verdadeiros motores da economia norte-americana.

  1. Vale a pena recordar também o papel desempenhado pelo ex-Vice-Presidente norte-americano, Al Gore, na sua tarefa de chamar a atenção do mundo para os riscos ambientais decorrentes do aquecimento global. No documentário que o celebrizou (mais até que no seu papel de Vice-Presidente), Al Gore ancorou-se em 3 pilares: i) Milhares de estudos científicos têm provado que o aquecimento global é uma realidade e constitui uma séria ameaça para a vida do nosso planeta; ii) Que, ao contrário do que afirmam certas correntes, políticas públicas correctas e consistentes baseadas no planeamento ambiental podem, sim, estimular as economias dos países; iii) Que o aquecimento global não é somente um ciclo natural da vida da Terra, mas, sim, o resultado das actividades humanas no campo industrial, sendo o recurso aos combustíveis fósseis o seu principal responsável.

  1. O primeiro pilar da denúncia de Al Gore foi confirmado pelo desastre provocado pelo furacão Katrina que varreu literalmente a histórica cidade norte-americana de Nova Orleães. O segundo pilar tem respaldo num trabalho apresentado pelo Programa das Nações Unidas para o Ambiente onde se mostra que é possível, sim, criar inúmeros empregos associados à implementação de energias limpas e renováveis.

  1. O recente posicionamento do Professor Richard Muller tornou-se um grande reforço para a corrente mundial que se vem batendo pela preservação do ambiente e para que a vida não vá, paulatinamente, desaparecendo do nosso planeta, fruto da actividade depredadora e destruidora do homem.

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