segunda-feira, 10 de setembro de 2012

“QUANDO A AMÉRICA ESPIRRA O MUNDO APANHA GRIPE”


  1. Estamos na eminência de ver confirmado o aforismo segundo o qual “quando a América espirra o mundo apanha gripe”. O seu exemplo mais recente foi o de finais de 2007 e início de 2008, altura em que as principais bolsas de valores em todo o mundo se ressentiram da crise do sector imobiliário norte-americano que contaminou os principais centros financeiros mundiais, desde Nova York a Londres, passando por Paris, Frankfurt, Tóquio, Hong Kong, etc. De imediato, e para fazerem face à crise que se estendia, as autoridades estadunidenses e os principais bancos centrais, um pouco por todo o mundo, impuseram medidas que conseguiram limitar os impactos da crise. Porém, os principais índices bolsistas assinalaram perdas substanciais, afectando diversos sectores económicos.

 

  1. A economia mundial passou, assim, a viver uma das suas maiores odisseias, tanto do lado da procura como do lado da oferta, ressentindo-se, por exemplo, nos preços da energia (com o petróleo a baixar para patamares alarmantes), assim como nos preços dos bens alimentares, que atingiram valores proibitivos.

 

  1. As notícias que agora fazem manchete na mídia internacional reflectem o receio de um aumento nos preços de determinados produtos ao nível mundial, fruto da seca que varre diversos estados do Centro-Oeste dos Estados Unidos da América, e que já afecta cerca de 60% do território.

 

  1. Os produtos agrícolas que estão a ser mais atingidos pela estiagem norte-americana são o milho, a soja e o trigo que, por reflexo, vão deixando também as suas impressões digitais sobre as carnes e outros produtos. A persistir, a seca que assola os EUA poderá tornar-se a maior da sua história. Os EUA são o maior produtor mundial de grãos e responsável por 40% das “commodities” negociadas nos mercados de futuros.

 

  1. Por enquanto, ainda se fala numa descida dos preços da carne bovina no mercado interno norte-americano, mas que resulta do facto de os criadores de bovinos se estarem a desfazer dos seus rebanhos, por causa da subida do preço das rações, muito dependentes do milho e da soja. Porém, já para o próximo ano, com a redução da oferta de carne de bovino, assistir-se-á a uma subida dos seus preços. Pelo contrário, será ainda neste ano de 2012 que subirá o preço da carne de frango, de suínos, das gorduras e dos óleos.

 

  1. Fruto da crescente globalização das economias, a situação agrícola nos EUA levou ao agravamento, por exemplo, dos preços da soja nos mercados internacionais, uma “commodity” negociada em várias bolsas, com especial destaque para a Bolsa de Chicago.

 

  1. O impacto na economia mundial de um aumento do preço do milho pode se fazer sentir num conjunto muito vasto de produtos, de que serve como matéria-prima, tais como produtos de mercearia, etanol, ração para o gado, tintas, penicilina e outros medicamentos, pasta para os dentes, cosméticos, até mesmo na produção de alumínio. Terá, assim, um impacto no nível geral de inflação, baixará o poder de compra dos salários, dinamizará o movimento grevista, podendo desencadear pressões sociais de valor incalculável.

 

  1. Fala-se já na stocagem precipitada de grãos por parte de alguns países, com receio de que uma eventual carência possa fazer despoletar tensões sociais escondidas.

 

  1. Com a seca nos EUA, os preços de muitas outras “commodities” subirá, gerando ganhos aparentes para alguns países. Paralelamente, assistir-se-á à volatilidade desses mercados que serão objecto de fortes acções especulativas.

 

  1. É mesmo caso para dizer que embora a procissão ainda vá no adro, fica por demais evidente que este “resfriado” dos EUA vai pela certa desencadear uma “epidemia de gripe” ao nível global.

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