terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

NOS EUA O FUTURO SÓ A DEUS PERTENCE…


  1. Uma das promessas eleitorais que permitiram a recente vitória eleitoral de Barack Obama, nos Estados Unidos, foi o aceno feito ao eleitorado latino (hispânico), prometendo uma profunda reforma das actuais leis migratórias – uma atitude que mereceu veemente repúdio por parte dos sectores mais conservadores alojados no seio do Partido Republicano.

 

  1.  Os hispânicos (ou latinos, excluindo os falantes de português, como os brasileiros) já constituem mais de 16% da população norte-americana. Ou seja, são aproximadamente 50 milhões de pessoas, constituindo o segundo mais volumoso grupo étnico naquele país, com uma taxa de crescimento demográfico mais vigorosa do que a dos brancos e mesmo até de outros grupos raciais ou étnicos. Os hispânicos são, sobretudo, originários do México, Porto Rico, El Salvador, Cuba, República Dominicana e Guatemala. A grande maioria, 65%, são descendentes do México.

 

  1. Na nomenclatura utilizada pelo actual censo norte-americano, os latinos são apresentados como uma etnia e não como uma raça, diferenciando-se dos “brancos” e dos “negros”. Muitos desses latinos descendem de indígenas, brancos ou negros, e até mesmo de asiáticos, fazendo com que o factor de identificação não seja a cor da pele mas, sim, de ordem sociológica, como a língua, a religião, tradições familiares, valores culturais, etc.

 

  1. A distribuição geográfica dos latinos pelo território dos EUA é diversificada, havendo, porém, estados muito povoados por gente de origem latina, como o Novo México, Califórnia, Texas, Arizona, Florida, Nevada. Na Florida, por exemplo e, em especial, em Miami, latino é sinónimo de cubano. Mas, em Nova Iorque, é sinónimo de porto-riquenho. Quando se caminha em direcção ao sudoeste norte-americano, o latino é tido por mexicano.

 

  1. Muitas figuras latinas são hoje demasiado mediáticas no cinema, no musical, ou mesmo no desporto, como Jennifer Lopez, cantora e actriz de origem porto-riquenha, Andy Garcia e Cameron Dias, actores de origem cubana, Eva Longoria, actriz de origem mexicana, Christina Aguilera, actriz de origem equatoriana.

 

  1. Pelo seu enorme prestígio, a influência dessas figuras públicas em período eleitoral já é determinante. E o candidato Barack Obama não negligenciou tal importância, já que, na Convenção do Partido Democrata do mês de Setembro de 2012, foi de ver o desfile em palco de alguns destes e de outros, manifestando ali a sua intenção de voto. O cenário repetiu-se durante o período da campanha eleitoral. Facilmente se percebe agora por que Barack Obama conseguiu arrecadar o voto de 70% do eleitorado latino.

 

  1. A postura do candidato republicano, Mitt Rommey, face aos eleitores latinos foi desastrosa. Ele prometeu deportar os imigrantes latinos ilegais, ou, na melhor das hipóteses, aconselhou a sua auto deportação. Mitt Rommey não teve em conta a própria história dos EUA, um país construído fundamentalmente por imigrantes e pelos seus descendentes.  Entrou, pois, em contradição com a história.

 

  1. Nos tempos que correm, 1 em cada 3 crianças que nascem na Califórnia é hispânica. O mesmo, ou aproximadamente o mesmo, vai sucedendo em outros estados dos EUA, relegando cada vez mais para o passado a imagem do americano “típico”: branco, loiro, protestante. Hoje, em algumas aéreas de actividade, o americano “típico” é também o afro-americano, e em não poucos locais, o latino. A tendência actual é para uma imagem de gente com forte mistura de sangues. Isso faz dos EUA o maior “laboratório sociológico” do mundo.

 

  1. Segundo estudos realizados apontam para que, a partir de 2018, a maioria das crianças que nascerem nos EUA já não serão de tez branca. Serão latinos, afro-americanos, asiáticos e de outras minorias. Quando se atingir o ano de 2043, os “brancos” deixarão de ser a maioria da população norte-americana. E em 2050, os latinos serão um terço dos norte-americanos, ou seja, à volta de 150 milhões. Isso produzirá, certamente, transformações de vária ordem.

 

  1. Se o voto dos negros e dos latinos já foi determinante para a reeleição do Presidente Barack Obama, não se estranhe se, nos próximos tempos, surgir o primeiro Presidente latino nos EUA. E o mais interessante é que ele pode vir de qualquer um dos dois campos políticos: republicano ou democrata. Embora os latinos, com excepção dos cubanos, votem cada vez mais no Partido Democrata.

 

  1. Recordo-me que, há mais de duas décadas, o meu irmão Vicente esteve nos EUA e, no regresso, disse-me que a língua espanhola estava a crescer imenso, de tal modo que, num futuro próximo, não seria uma heresia caracterizar os EUA como um país bilingue.

 

  1. O poderio económico dos latinos nos EUA também é crescente e, seguramente, sairá reforçado com o aumento dos laços comerciais entre esse país e os países latino-americanos. Está, pois, tudo em aberto na maior potência do mundo. Eu digo agora, como aprendi com a minha mãe: “Afinal, o futuro só a Deus pertence…”

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