quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O PODER DAS AGÊNCIAS DE RATING


1.  As Agências de Notação de Risco de Crédito, também conhecidas por Agências de Rating, continuam a ter um forte poder de influência na economia e na política internacional, mesmo que, num passado mais ou menos recente, algumas tenham sido pouco rigorosas em suas avaliações. É o caso, por exemplo, da Standard & Poor´s (S&P) que, no ano 2008, viu falir o Banco Lehman Brothers, depois de lhe ter dado nota maculando, assim, a sua imagem e credibilidade.

 

2.  A S&P avaliou positivamente a saúde financeira do banco, garantindo, assim, a qualidade dos créditos imobiliários “subprime” que estiveram na origem da enorme crise financeira que abalou a economia norte-americana e que também afectou outras economias no resto do mundo.

 

3.  O impacto do erro da S&P foi tão grande e tão desastroso que levou, em 2013, a Procuradoria Geral norte-americana a intentar uma acção judicial contra a agência, considerando que ela ignorou as fragilidades dos investimentos em produtos financeiros hipotecários. O alto rating atribuído ao banco estimulou a apetência dos investidores que depois se viram defraudados, por terem adquirido produtos financeiros “tóxicos”.

 

4.  Agora a S&P voltou a convocar a atenção internacional, ao baixar o rating da economia brasileira, passando-o de BBB- para BB+, ou seja, fazendo o Brasil perder a condição de “bom pagador” (rating de investimento de qualidade), e atirando-o para a condição de “lixo” (“junk”, em inglês).

 

5.  O rating de “bom pagador” atrai investimentos por parte, por exemplo, dos grandes fundos de pensões, enquanto a condição de “lixo” produz o efeito contrário, estimulando os investidores mais especulativos que, por regra, cobram juros mais elevados nos mercados de capitais.

 

6.  Na altura em que escrevo este artigo, apenas a S&P manifestou dúvidas sobre as possibilidades de o Brasil honrar os seus compromissos. As outras duas agências de notação de risco de crédito, as também famosas Fitch Ratings e Moody´s, ainda têm uma atitude mais comedida, mesmo que emitindo sinais de puderem vir a seguir o mesmo caminho, baixando o rating do país.

 

7.  Caso uma dessas duas agências coloque o Brasil com o perfil de “lixo”, tudo ainda se complicará mais, pois há instituições financeiras cujos estatutos impõem a obrigatoriedade de virar as costas a parceiros desclassificados para “lixo” por, pelo menos, duas agências. A S&P avaliou também negativamente certas empresas brasileiras, como a Petrobras, e mais de uma dezena de instituições financeiras, administrações regionais e cidades.

 

8.  Descida a cotação do país, os fluxos dos empréstimos tendem agora a diminuir, ficam mais onerosos, sobem os juros, a moeda desvaloriza-se, há aplicações financeiras a emigrar em busca de mercados mais seguros, sobe a inflação, a economia perde impulso e aumenta o desemprego. Sopram, pois, ventos muito aziagos sobre o Brasil - a sétima economia do mundo - momento também não muito bom para mais economias emergentes, como a China e a Rússia, por exemplo.

 

9.  O Brasil não tem conseguido implementar políticas mais rigorosas, fruto, em parte, dos compromissos sociais assumidos pela anterior administração e seguidos pela actual, cujo reflexo é o Orçamento do Estado para 2016 com défice primário de 30,5 mil milhões de reais, situação agravada com os sucessivos escândalos de corrupção que minam a credibilidade da classe política e de empresários articulados com ela.

 

10.                   É bom que o mau momento vivido pelo Brasil sirva para reflexão no nosso país e para os nossos governantes. Apesar de tudo, mesmo em crise, o Brasil tem uma porta por onde poderá escapar sem grandes traumas, dado que se trata de uma democracia, não precisando, portanto, de “inventar” inimigos, para depois perseguir ou mesmo reprimir…

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